22.12.08

A afirmação do (não) futebol

Este titulo poderia muito bem servir para um texto sobre o futebol português, todavia, e porque não só de crónicas lusas se faz este blogue o que hoje pretendo focar é um campeonato que pelas suas peculiares características me desagrada profundamente. O calcio é para mim, um mero observador, é um exemplo crasso do aquilo que o futebol não deve ser. Nem sequer é preciso ir para os contornos extra-jogo que nos últimos anos assolaram o futebol transalpino para justificar a minha posição.

Na minha opinião o que se passa com o futebol italiano, não é estrutural, nem conjectural, é simplesmente o um problema de essência. Essência, porque parte das premissas erradas de acordo com aquilo que eu entendo o que é o futebol, um verdadeiro Showbuisiness. Desta forma, e partindo do principio que o futebol é um espectáculo de milhões cabe aos artistas transmitir um pouco de emoção, rasgo e criatividade para o publico. Comparando o futebol italiano a um circo, este seria um circo chato. Perfeito em todas as linhas, mas previsível e sobretudo aborrecido. Quem estiver a ler este texto, já e pensar “então este gajo é maluco, o futebol italiano é só o futebol mais táctico e inteligente do mundo”, tem razão, não quanto à loucura, mas quando pensam que o estilo de jogo de Itália é do mais cerebral que profícuo que existe, especialmente quando nas provas a eliminar.

O problema das equipas italianas, é dentro de portas pois quando dois gigantes como o Milão ou a Juventus se defrontam, o que se passa dentro do relvado é uma verdadeira partida de xadrez onde os seus treinadores preparam cada jogada da forma mais meticulosa possível. Ok, é tudo muito bonito, artístico e inteligente, mas onde é que está a emoção que leva pessoas ao estádio? Os passes rasgativos, a velocidade constante, os ziguezagues que deixam a multidão a espumar por mais?

De onde provem a especialidade táctica dos italianos? Como explicar que um futebol que conta com artistas da craveira de Francesco Totti ou Alessandro del Piero possa abdicar da emoção e da magia de um jogo de futebol? A origem deste fenómeno remonta aos anos 50 quando a selecção italiana de futebol se viu privada de sete dos seus melhores jogadores, todos estes morreram num acidente de avião quando o Torino (a grande equipa europeia dessa década) veio jogar a Lisboa, e se viu obrigada a recorrer principalmente a defesas para suprir as baixas sofridas.

Depois de este incidente que deu começo a saga defensiva italiana, apareceu Herrera. Helenio Herrera, chileno, e um mestre da táctica. Inventou um sistema táctico, que ficou para a história como o cattenaccio, apostou em três centrais e fez dos laterais verdadeiros médios-ala. Resultado? Campeão europeu, campeão italiano e vencedor da taça intercontinental. A herança de Herrera foi continuada por outros grandes mestres e apesar do declínio do futebol italiano durante os anos 70 inicio dos anos 80. Arrigo Sacchi, Fabio Capello ou Marcello lippi foram capazes de colocar o futebol da península itálica novamente no Olimpo. Só que sempre fieis aos seus princípios errados do jogo.

Admito relutantemente que a nível internacional, isto é, em competições europeias é muito interessante ver equipas transalpinas a jogar, pois o calculismo, a competência táctica e a inteligência dos italianos normalmente é suficiente para se superiorizar aos adeversários. O problema do futebol italiano reside essencialmente dentro de portas. Ver um interX milan é olhar para duas fortalezas expugnáveis que vão lutando no meio-campo à procura do erro do adversário. Desta forma, austera, apagada e vil o espectador fica, em pávido e em sereno, sem exprimir minimamente as emoções típicas de um jogo de futebol. Digam o que disserem, o futebol inglês é o melhor do mundo. E isso, vê-se também pelas receitas, pelas pessoas no estádio, pela emoção. Ah e tal, é por causa de questões culturais! Não me lixem…Não se trata apenas de questões culturais, no futebol, como na economia real quando o produto é bom tem saída, quando é medíocre a empresa que o vende está condenada ao fracasso. O que se passa com o futebol italiano é semelhante, enquanto a “beleza táctica” imperar como fundamental e a arte não se libertar, os estádios vão continuar como estão…vazios.

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