26.2.09

Façamos da nossa falência uma vitória, uma cousa positiva e erguida, com colunas, majestade e aquiesciência espiritual.
Fernando Pessoa

19.2.09

Soares Franco disse à dois dias que não admitia perder com o Benfica. Incompleto, Senhor Soares Franco, incompleto. O Presidente do Sporting não pode admitir perder com nenhum clube do mundo. E já agora, o Sporting tarda em ter um presidente que cultive esta cultura no clube, esta cultura de que o Sporting joga sempre para ganhar qualquer que seja o estádio. Está na hora de os miudos da academia (sim, a tal que produziu dois "melhores do mundo" em oito anos) aprenderem que o Sporting é para a vida e que em Portugal só se joga de verde e branco, que os treinos são para suar até à exaustão e que os desfiles de moda não ganham campeonatos. É tempo de se acabar com as "birras" no balneário e com os pedidos de transferência para Boltons e Evertons. Primeiro provem em campo que merecem os milhões do estrangeiro e depois conversa-se. Todos os jogadores deviam ter João Moutinho como O Exemplo. Porque o jovem capitão leonino é extremo maximo de profissionalismo e devoção ao clube. Voltando a Soares Franco. O presidente do Sporting é um homem que vai fazer falta ao futebol português. Porque é uma pessoa de principios e ideias, um gentleman na globalidade. Peca, contudo, pela falta de paixão com que vive o Sporting e ser sportinguista. Soares Franco tem de perceber que apesar de ser uma empresa, o Sporting é, na sua essência, um clube de futebol, em que os adeptos nunca poderão ser tratados com clientes ou accionistas. Quero com isto dizer que um clube de futebol vive e respira de títulos, e quando falo de títulos falo de campeonatos. Apesar de o trabalho de reestruturação financeiro do clube verde e branco é algo que teve de ser feito, a partir de agora o Sporting tem de começar a ganhar campeonatos. E isso só acontece se a aposta na melhor escola de formação da Europa se mantiver e se continuarmos a blindar os nossos melhores jogadores. Talentos como Vukcevic ou Izmailov são para fazer carreira de verde e só sairem do clube mediante uma proposta irrecusável. Afinal, é esta a filosofia que impera no Dragão e que tão bons resultados tem dado: um jogador tido como essencial no onze inicial só sai por valores sempre superiores a vinte milhões de euros. Estou com isto a dizer que Vukcevic ou João Moutinho valem vinte milhões? Claro que não, mas quem os realmente quiser terá de pagar, e terá de pagar bem! Todo este pensamento sobre a realidade do meu clube assaltou-me o pensamento em vesperas do mais apaixonante Derby de Portugal. É o jogo com mais história e rivalidade deste país. Por tudo isto façamos do proximo Sábado o dia em que uma nova era é fundada em Alvalade.

17.2.09

O que falta a di Maria? (e outras notas)

1.A décima nona jornada do campeonato português foi como a pescada, antes de o ser já o era, e depois de um clássico em antes de um derbie, Benfica, Porto e Sporting venceram (mas não convenceram) três adversários bastante acessíveis. Começando pelo Sporting que jogou no sábado, só tenho a dizer que a arte de Postiga e a burrice de Pacheco fizeram o resultado. Enquanto o treinador do Belém não entender que a táctica do quadrado não se aplica ao futebol o belenenses não pode ir longe. Apanhou-se a ganhar e o que fez? Recuou até à exaustão a pedir que o Sporting caísse em cima dele. Paulo Bento agradeceu, colocou a “carne toda no assador” (Quinito se me estas a ouvir, obrigado) e saiu-lhe a sorte grande, 2-1 em 5 minutos e a equipa de Lisboa vive para lutar noutro dia. Só vi a segunda parte do Benfica, mas daquilo que vi da etapa complementar, e sabendo que o jogo estava 0-0 ao intervalo acho que não perdi grande coisa…Cardozo depois de ter chutado contra todos os postes da liga lá decidiu que ia voltar aos golos e fez o primeiro. Depois, foi um vê se te avias para manter a vantagem até que Di Maria deu um pontapé na monotonia e quase matou o jogo. Digo quase porque o Benfica é pródigo a matar doentes cardíacos e a vencer por dois golos a dois minutos no final ainda sofreu um golo e levou uma bola no ferro da baliza à guarda de José Moreira. Mais uma vitória à Benfica só que desta não houve Mantorras…Já o Porto jogou muito (pouco) e só a 4 minutos do fim é que desfez a igualdade que o Rio Ave, que ainda conseguiu jogar menos que o Porto, conseguiu alcançar através de um golaço de Coentrão. A equipa de vila do conde é mesmo muito fraquinha e só dos pés do camisa 16 é que saiu algum perigo para a defesa azul-e-branco, o resto é uma cambada de coxos, velhos e inexperientes. De salientar que a reacção de Carlos Brito à troca de Jesualdo, tirando Cissoko e pondo Lisandro, foi tirar um extremo e por um…defesa central.

2. Fabio Coentrão e Di Maria, são ambos esquerdinos, nasceram os dois em 88, jogam no Benfica (um está emprestado), cada um deles marcou um golo do outro mundo esta jornada e tem ambos tanto talento nos pés como serradura na cabeça…Agora a sério, já chateia ver os dois a jogar porque tanto fazem uma tirada do outro mundo como andam completamente apagados do jogo. São dois casos para o Benfica certamente rever, pois porque jeito para jogar à bola não falta a nenhum deles, o problema é entender quando é que vão deixar de ser uns brinca-na-areia para passar a ser verdadeiros jogadores de futebol. O caso do argentino é mais grave e mais evidente, pois não só teve mais oportunidades do que o "figo das caxinas" como têm outro traquejo internacional. A verdade é que as idas à selecção e o excelente torneio Olímpico não foram suficientes para fazer Angelito descolar. A oscilação exibicional onde varia entre o mau, o muito mau, o razoável, e o mau disfarçado de bom ao assinar um grande momento é um sinal claro de algo está errado com a cabeça do pibe argentino. Uma vez disse que Nani era um trapalhão, reitero o que disse mas Nani ao lado de di Maria é o Zidane no que toca à inteligencia e nas decisões.

3. Numa altura que se fala de Liedson integrar a selecção nacional, Postiga faz um grande jogo e mostra que tem mais do que qualidades para jogar pela equipa das quinas. Não era um admirador das qualidades do avançado leonino mas nos últimos tempos tenho que lhe reconhecer algum talento. Ocupa bem os espaços, é tecnicamente evoluído e sobretudo tabela bem entre os adversários. È um avançado moderno, que joga bem entre linhas e portanto o ideal para potenciar o jogo colectivo. Com um avançado móvel e inteligente como Postiga na frente como poderemos nós queixarmo-nos da falta de um finalizador quando contamos com o bota de ouro?

4. Pelo que dizem o InterXMilan foi um grande jogo, e o Inter jogou muito. Vi apenas os últimos 30 m e com isso vi um Milão a massacrar. Ronaldinho voltou à boa forma, mas quem fez uma grande jogatana foi o jovem Pato. Parece que na idosa equipa rossonera há ali juventude e irreverência que poderá marcar uma década, do Inter Maicon é impressionante e Zlatan de outra galáxia. A inteligência e a técnica do avançado sueco é incrível, o gigante nerrazurro não se limita a ser o finalizador das jogadas criando ele próprio uma série lances de pura mestria, sem duvida um candidato para o trono de melhor de 2009…

5. 15 jogos depois o Barça voltou a perder pontos. O mérito é do Bétis de Nelson e Ricardo. Por falar nisso, ouvi dizer que o segundo fez um jogaço...Não estranho nada, para a semana provavelmente oferece o golo da vitória ao adversário.

2.2.09

Rescaldo de Inverno.

Fechou mais uma janela de transferências de Janeiro, e um período que normalmente costuma ser fértil em notícias infundadas e folhetins inacabáveis foi até calma e com desfechos pouco dramáticos. Se os “petrodolares” do Manchester City prometiam aquecer este frio inverno, a verdade é que as sonantes contratações prometidas para Janeiro, leia-se Káká e Buffon, desembocaram nas compras de de Jong, Bridge, Bellamy e Shay Given. Ou seja, depois de tanto aparato as quatro contratações postas ao serviço do técnico Mark Hughes servem bem para um clube de meia de tabela com aspirações europeias. Se as coisas não correram bem para os lados de Manchester o mesmo não se poderá dizer de Londres. Tottenham e Arsenal conseguiram contratar quem queriam e no caso de Arshavin a sua contratação pôs fim a uma novela de meses em que se especulou o destino do craque russo. Nunca escondi a simpatia que nutro pelos “gunners” e a admiração que tenho pelo russo, portanto, não posso deixar de estar contente pela contratação de um excelente (e já agora experiente) desportista por parte de um treinador que sabe reconhecer como ninguém o talento de um jogador de futebol. Já o clube de White Hart Lane não contente com os 70 milhões gastos no verão, voltou a investir forte no mercado de inverno e garantiu o regresso de nada mais nada menos do que três ex-jogadores: Robbie Keane, Jermaine Defoe e Pascal Chimbonda. Se o bom filho a casa torna, o mesmo não se poderá dizer de Wilson Palacios contratado ao Wigan que tem a oportunidade de mostrar a sua qualidade num clube com outras aspirações, quer dizer,pela politica de contratações evidenciada mesmo que seja um fiasco Palacios parece que vai ter outra oportunidade se brilhar noutro clube. A verdade é que agora Redknapp conta nada mais, nada menos do que quatro avançados da mesma categoria que todos juntos custaram quase 85 milhões de euros. Sim senhor, isto é que é uma gestão coerente...

Nós por cá tivemos um período de transferências calminho. Só o Porto é que se reforçou e foi ao mercado nacional buscar quatro reforços e todos eles de qualidade duvidosa. Se Andrés Madrid já foi uma coqueluche no futebol português não deixa de ser estranho a sua contratação neste momento quando não era, sequer, titular no Braga. Cissoko (ou lá como se escreve) é um lateral possante com evidentes lacunas tácticas que de todas as formas se pode vir a afirmar como um bom reforço, para já o meu veredicto é negativo mas há a possibilidade, dado às suas qualidades físicas, de ele se tornar um bom jogador. Depois o tri-campeão nacional contratou mais dois jogadores já a pensar na próxima época. Primeiro Miguel Lopes, um lateral formado no Benfica que tem dado nas vistas no Rio Ave e Silvestre Varela. Se a aquisição do vila-condense é justificada pelas boas exibições e pela sua relativa juventude já a compra do “Drogba da Caparica” parece-me uma pequena precipitação, do tipo Sandro…Ao Sporting é que ia saindo a sorte grande ao quase conseguirem intrujar o balofo do Veloso por 13 milhões de euros. Eu ia achar piada ao jogo do bolton, o chamado pontapé para a frente e viva a união, a ser pautado pela “classe” velosiana que cada vez que pisa a bola tem que o fazer com mais estilo do que um salvamento num filme do Schwarzenegger. Havia de ser um “dois-em-um” simpático, o Veloso a bombear bolas para o Makukula correr atrás delas, ai é que talvez o Gary Megson perceberia que futebol é mais do que chutar para a frente e ter lá tipos que a consigam receber e chutar à baliza.

*a noticia relativa a Arshavin ainda não é totalmente confirmada, mas nesta altura tudo parece indicar que a tranferência está consumada.

NOVA AVENTURA

Na altura do euro tive a oportunidade de escrever aqui o que na minha opinião faltava a Quaresma para ser um jogador de top. Tive também oportunidade de dizer posteriormente que pensava que ia falhar rotundamente no Inter. De facto, Harry Potter já correu Espanha, Itália e agora vai para Inglaterra, mais concretemente Londres. Em Portugal tinha tudo e era o melhor extremo a jogar cá, de longe. Dizem que não devia ter saído daqui. Discordo. O futebol de Quaresma é demasiado grande para uma Mata Real ou um Caldeirão dos Barreiros mas parece ser demasiado pequeno para um San Siro ou para um Nou Camp. A dificuldade, volto a dizer, parece estar em aliar este talento a uma capacidade e mentalidade competitiva de topo. Dizer que Quaresma esteve no Inter é ter muito boa vontade. Não vi um único bom jogo, nem um bem conseguido ainda que Mourinho fosse variando a crítica com a motivação (mais a primeira que a segunda sendo que ambas se interpenetram). Teve a felicidade de "marcar" na estreia mas nem isso chegou...Ruma agora por empréstimo a Inglaterra. Talvez tenha mais espaço, parece-me um bom reforço para o Chelsea (melhor para eles talvez só o Lippi) tendo em conta a fase da época e a qualidade do jogador. Mourinho não conseguiu pôr quaresma no topo, Scolari (ou outro que lá estiver) irá tentar mas será que Quaresma está pronto? Os anos passam e Quaresma cada vez mais perde a corrida. Desta vez não estou tão seguro que irá ser um fiasco. Uma coisa é certa, em Itália Quaresma nunca terá espaço para jogar.

1.2.09

"o jogador do Povo" *

Só podia ter sido ele. Não havia outra hipótese. O suspeito do costume entrou em cena, e como é hábito resolveu. Foram noventa minutos de muito pouco futebol, com muito suor luta e lama à mistura. O público ia ficando agastado com a chuva e o mau futebol que a flor do relvado, ou campo de arroz, não atava nem desatava mas em trinta segundos e quando o jogo parecia já destinado a um empate, entrou Pedro Mantorras e a esperança na luz renasceu.

Há quem diga que o futebol se escreve por caminhos misteriosos e o caso de Pedro Mantorras é tão insólito que até eu, um fervoroso benfiquista, tenho dificuldades em entender. De futura estrela passou a mártir e de mártir foi um pequeno passo até ser herói. O pequeno passo foi uma recuperação difícil e atribulada que culminou em seis fulcrais golos que levaram o Benfica ao título na época de 2004/2005. Aquilo que mais estranha um adepto comum no jogo de Pedro Mantorras é a forma desengonçada e pouco ortodoxa do seu jogo, é obvio que algum talento ainda ali está, mas é impossível não reparar nas dificuldades que o angolano tem sempre que tem a bola nos pés. As várias lesões mal curadas, e criadas pelo departamento técnico e clínico do Benfica, impediram a sua progressão. O super-talento que encantou Portugal, hoje não passa de um (literal) coxo, mas mesmo sendo um coxo, a verdade é que o coxo vai marcando um golo em cada 109 minutos! Quando vemos Mantorras a jogar não pensamos “Como é que este tipo joga na primeira liga, pensamos imediatamente como é que este tipo ainda joga sequer futebol?”

Já aqui falei do poder do simbolismo no futebol, e por mais que tenhamos os olhos fechados, é preciso admitir que o Mantorras é um símbolo no Benfica e uma figura impar no mundo do futebol. Quando falo deste destaque no futebol refiro-me, claro, no seu efeito anímico nas bancadas pois nenhum jogador do mundo com tão pouco rendimento é tão adorado pela massa adepta de um clube, que normalmente até é mais exigente que os outros. Não é qualquer um que entra no goto no chamado “terceiro anel”, Nuno Gomes ou Néné que o digam, porém, Mantorras e sem ter sido um grande avançado da história do clube consegue por um estádio todo em pé! È um efeito inacreditável que só quem já o presenciou é que pode compreender. Para terminar, penso sinceramente que o nome de Mantorras perdurará na historia do futebol português. Não será pelos mesmos motivos que nos lembraremos de Figo, Eusebio ou Cristiano Ronaldo, mas será pela razão daquilo que apelido “efeito Mantorras”. O efeito de esperança num jogo perdido, efeito de acreditar que ainda é possível vencer as dificuldades fácticas quase intransponíveis, efeito de entusiasmar até o público do mais enfadonho jogo de futebol. Por tudo isto, obrigado Pedro Mantorras.

* a frase do titulo não é minha e pretence ao Helder Conduto que no ultimo jogo não se cansou de assim apelidar o "Mago do Golo", para quem poderá eventualmente criticar o conteudo deste texto, digo que um pouco de parcialidade de vez em quando não faz mal!