3.1.09

O mito

O tempo que passou já me dá segurança suficiente para falar sobre o que se passou no estádio Olímpico de Berlim quando Zidane perdeu a cabeça e deu a famosa cabeçada ao defesa-central italiano Marco Materrazi. Se tivesse escrito na altura este post (nem o poderia ter feito pois ainda não me tinha surgido a ideia que seguidamente irei desenvolver) estaria a cair no perigoso campo do tendencioso pois os meus pensamentos estariam obviamente moldados pelo calor do momento, e por toda a paixão que a sensacional cabeçada despertou, não só em franceses e italianos mas como em todos os adeptos em geral.

Para aqueles que pensam que Zidane deveria ter acabado de taça na mão e não passando casbisbaixo ao lado dela eu digo: Estão enganados. Ao agredir Materrazi, Zizou libertou-se da lei do esquecimento e consagrou a sua figura como uma lenda do futebol mundial. Não lhe bastou ter sido 2 vezes considerado o melhor do mundo. Não. Teve que terminar em grande, e conseguiu-o. Primeiro, fez a tarefa (quase) impossível de levar uma depauperada e desisnpirada França até à final de um campeonato mundial onde eliminou Espanha, Brasil e Portugal, depois, e após um grande jogou onde marcou um golo, culminou a sua gloriosa carreira com uma imagem que vai ficar para sempre…O herói, mostrou a sua fraqueza, encontrou o seu vilão, e para encantar e emocionar o publico não há nada como assistir à queda de um herói. Zidane naquele momento caiu. Mas a sua queda, como a de Aquiles ou Heitor é um épico monumental à qual ninguém ficou indiferente. A cabeçada de Zidane é quase marco cultural: fizeram-se canções, discutiu-se exaustivamente na opinião pública, escreveram-se livros, especulou-se o que Materazzi terá dito, até em filmes há referências ao mítico confronto entre os dois jogadores. O que me fez escrever este post, foi a resposta de um aluno retratado no filme a Turma quando lhe pergunta aquilo que ele odeia. Terá respondido por acaso Zidane? Não, respondeu Materrazi, e por favor, se consegui alguma atenção nesta minha mensagem, já alguma vez se perguntaram porque é que teve que ser a Marco Materrazzi um dos mais odiados futebolistas do planeta que Zidane deu a cabeçada? Curioso, ou então não!

Para se ser uma lenda, um herói, é preciso mais do que muito talento e uma carreira fenomenal no futebol. Pelé teve o regime brasileiro e os dólares americanos, Best o álcool e o seu comportamento de playboy e Maradona, bem, Maradona teve para além da maldita cocaína, a mão de Deus, a máfia, a dicotomia norte-sul de Itália, o filho ilegítimo e o facto de jogar num clube pequeno como factores essenciais para mistificar a sua existência. Sem as suas fraquezas e contradições, provavelmente el Pibe de oro teria sido um grande jogador (como Rivaldo, Figo, Laudrup) mas nunca um Deus. Zidane, conseguiu chegar perto do Olimpo pois não só venceu em tudo no futebol como mostrou a sua faceta mais selvagem.

Para aqueles que acham este texto pateta e despropositado, digo-vos já que aceito essa opinião. Eu próprio durante muito tempo pensei assim. Agora, proponho-vos o seguinte exercício: de que se lembram vocês quando vos vem à memória o mundial de 2006, o Fábio Canavarro a levantar a taça ou a cabeçada do Zizou?

este post foi simultaneamente publicado em www.playingatmyhouse.wordpress.com

Um comentário:

Anônimo disse...

Por acaso fui daqueles que, apesar da relação dificil Portugal - França e do certo ódio que lhe tinha /tenho depois de tantas eliminações, apesar de não concordar, compreendi a dita cabeçada. Zidane nao tinha nada a provar a ninguém. Era o melhor jogador da sua geração e um dos melhores de sempre. Não deu uma cabeçada no bruno alves italiano porque queria ser expulso mas sabia, antes de se lançar no peito do homem que acabaria ali a final para ele. Respect for the man

David Paula