11.11.08

Já que se fala tanto do duelo Messi VS Ronaldo...

Imagino Lionel Messi com a camisola desfraldada como uma bandeira, o 10 ao sabor dos movimentos do corpo, contra outros «10» com a mesma cor e o mesmo NOME, tatuado para sempre nas costas. Ainda pibe, não sente o peso dessa sentença chamada Maradona. Tem as meias em baixo, brancas mas também negras, pintadas com a cor das canchas de pó, com a ferrugem de um futebol feito de sonhos e pobreza. Imagino o baixinho Messi, de braços paralelos ao corpo, talvez com um boné virado para as costas, troçando de quem deixa pelo caminho no seu futebol endiabrado e conduzindo a bola como se jogasse ao pé-coxinho. Reconhece-se nele o futebol poético de Maradona e Pelé, a pureza do jogo antes de ser corrompido pelo tempo e pela insinuação sedutora das televisões. É o último dos eleitos. Cristiano Ronaldo está algures entre uma máquina de musculação e vinte metros à frente da baliza. Treina, treina, treina. Cada vez melhor, cada vez mais rápido. Um truque repetido dez vezes, uma recepção vezes trinta. Mais um remate, dois, dez. Meias para cima, cabelo bem penteado e firme, camisola justa ao corpo dentro dos calções. Dois passos para trás e um para o lado para o livre directo. É dali! Ele, nada português na sua sede, não resiste à busca constante pela perfeição. Pelo reconhecimento. Pela equipa. Por si. O 7 de Best, Beckham e, agora, Figo é apenas uma herança como qualquer outra, sem fantasmas. Ambos enormes, ambos fantásticos. Tão diferentes! Messi nunca será capaz de aperfeiçoar até à exaustão um movimento, Ronaldo não conseguirá imitar a naturalidade daquelas vírgulas canhotas do argentino. Tudo no português é parte de uma coreografia, inserida numa peça de teatro. Tudo no miúdo que o Barcelona descobriu ainda juvenil no país de El Diez faz parte da vida, do simples acto de inspirar e expirar. Como se a bola fosse, literalmente, um prolongamento do próprio corpo. Da tese e da antítese nasceu a síntese. A síntese seria o jogador perfeito. A velocidade, a força, a ambição e a capacidade de superação de Cristiano; a técnica, a magia e a simplicidade de Lionel. Se um presidente de uma empresa de clonagem esteve a ler este texto, acabou de largar o rato nesta frase, deslocando-se apressado para registar a patente. Mas, para mim, os génios têm de ser imperfeitos, Maradona tinha de ser rebelde e consumir cocaína; Garrincha não poderia ser Garrincha sem as mulheres e a bebida; Pelé fez bem em estar lesionado em 1962 e 1966; Zidane demorou tempo a mais a acertar em Materazzi... Cristiano só é Cristiano se não for tão puro quanto Messi, Messi só será Messi se desistir do Santo Graal da perfeição. E nós ficaremos felizes da vida por podermos assistir a dois dos maiores talentos do futebol, coexistindo, brilhando intensamente, e dividindo, acredito eu, os próximos prémios de melhor do mundo. Que o futebol não os estrague! in MaisFutebol PS: é dos artigos mais clarividentes que ja li em relação a este assunto...

3 comentários:

DM disse...

A minha escolha recai, claramente, sobre messi. O Pibe encanta-me, deixa agua na boca... É extraordinário, de longe o jogador mais talentoso que ja vi a jogar futebol... Não conto com Maradona porque nao me lembro de o ver a jogar!

RVO disse...

Eu sou um adepto do trabalhador Cristiano. Gosto de ver Messi, obvio, mas são jogadores como Zanetti, Maldini, Lisandro, Rooney, Cambiasso entre outros que me fazem pensar que as vezes ser treinador é uma carreira fantastica. Este texto, esta bom e não só separa Messi de Cristiano como cataloga os jogadores em dois tipos...o diamante em bruto e o diamante lapidado até ao maximo.
Eu estou do lado dos "lapidados" e de quem "lapida" mas num plantel meu...a criança de boné para tras teria um espaço...nem que fosse no banco a tirar macacos do nariz enquanto espera a oportunidade de resolver o jogo que as vezes os batalhadores nao resolvem.

JFC disse...

brilhante